Ben Ammar, de Silves (m.1086)
Canta, como sombra, uma cidade
que já não existe; e os seus versos dirigem-se
à mulher mais bela do mundo, de
quem não ficam outras memórias
nem retratos. Mas as suas palavras
talvez cheguem
para que adivinhemos o paraíso:
palácios onde a água corria nos pátios,
e o quarto onde a amada descobria o rosto,
perante o espelho, resistindo à tarde
que a empurrava para a varanda,
e os risos cúmplices do namoro,
fingindo ignorar esse poeta que a persegue,
como gazela, tentando prendê-la
à página. Ali, branco no branco
e preto no preto, liberta da efemeridade
da vida, a vou encontrar: sem nome
nem idade, flor eterna
no jardim sem inverno dos amantes.
Nuno Júdice
(in "O movimento do mundo", 1996)
Canta, como sombra, uma cidade
que já não existe; e os seus versos dirigem-se
à mulher mais bela do mundo, de
quem não ficam outras memórias
nem retratos. Mas as suas palavras
talvez cheguem
para que adivinhemos o paraíso:
palácios onde a água corria nos pátios,
e o quarto onde a amada descobria o rosto,
perante o espelho, resistindo à tarde
que a empurrava para a varanda,
e os risos cúmplices do namoro,
fingindo ignorar esse poeta que a persegue,
como gazela, tentando prendê-la
à página. Ali, branco no branco
e preto no preto, liberta da efemeridade
da vida, a vou encontrar: sem nome
nem idade, flor eterna
no jardim sem inverno dos amantes.
Nuno Júdice
(in "O movimento do mundo", 1996)