Epicentro dos poetas algarvios

Este irá ser o lugar geométrico dos poetas ligados ao Algarve, por nascença ou por aquisição do título por mérito próprio. Entre Al-Mohtâmid e Nuno Júdice encontraremos muita gente pelo caminho e teremos muito prazer em ouvir de novo Ibn Ammar, João de Deus, António Aleixo e muitos outros valores da poesia desde o Al-Garb Al Andalus até aos nossos dias presentes.
Esta é uma praça aberta a todos, consagrados e noviços. Sejam bem vindos.

sábado, 30 de julho de 2011

Nuno Júdice

Ben Ammar, de Silves (m.1086)
Canta, como sombra, uma cidade
que já não existe; e os seus versos dirigem-se
à mulher mais bela do mundo, de
quem não ficam outras memórias
nem retratos. Mas as suas palavras
talvez cheguem
para que adivinhemos o paraíso:
palácios onde a água corria nos pátios,
e o quarto onde a amada descobria o rosto,
perante o espelho, resistindo à tarde
que a empurrava para a varanda,
e os risos cúmplices do namoro,
fingindo ignorar esse poeta que a persegue,
como gazela, tentando prendê-la
à página. Ali, branco no branco
e preto no preto, liberta da efemeridade
da vida, a vou encontrar: sem nome
nem idade, flor eterna
no jardim sem inverno dos amantes.


Nuno Júdice
(in "O movimento do mundo", 1996)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Silves a taifa dos poetas

Al-Mohtâmid - O Rei Poeta



  Evocação de Silves


Saúda, por mim, Abu Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
E lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Nos jogos do amor
Com a da pulseira curva
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava...
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar
Às vezes o do seu copo
E outras vezes o da boca.
Tangia cordas de alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas retirava o seu manto
Grácil detalhe mostrando:
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.


A Taifa de Silves (Xilb) Escola de Poetas

Silves era famosa no mundo árabe por ser o centro da cultura da poesia. Diz-se que nesse tempo todos os habitantes eram muito cultos e dotados na arte de fazer poesia de improviso. Por aqui passaram Al-Mohtâmid ( o Rei Poeta do Al-Andalus), Ibn Ammar e muitos outros cuja arte chegou aos nossos dias:
 Ibn Al-Milh, Ibn Habit, Maryam Al-AnsariMississi,  Al-Kurasi, Ibn At-Talla, Ibn As-Sid, Ibn Ar-Ruh, Ibn Qasi, As-Silbia, Muhammad Ibn Wazir e Ibn Badrum.
É nosso propósito começar por publicar poemas desses poetas que escreveram e recitaram nos lugares que são hoje o nosso Algarve. Por isso serão os "fundadores" da nossa confraria.
 (Informação recolhida em publicação da Associação de Estudos e Defesa do Património Histórico-Cultural de Silves).

segunda-feira, 25 de julho de 2011

CONFRARIA DOS POETAS ALGARVIOS

Talvez por herança dos árabes que nos povoaram em tempos remotos e que eram amantes da poesia, o Algarve é muito rico em poetas. Neste sítio, entre o passado e o futuro, entre o litoral e a serra, entre o barlavento e o sotavento, tentaremos ser o epicentro da poesia algarvia. Epicentro porque isso significa o lugar à superfície onde chegam as ondas dos movimentos terrestres que se produzem no interior desconhecido. O que pretendemos é não esquecer o nosso legado poético, por um lado, e dar a conhecer muita da poesia e dos poetas que não vieram à tona.